segunda-feira, janeiro 15, 2007

Hoje recebi um presente que me emocionou. É uma poesia inédita da minha queridíssima Simone Saback que a cada dia que passa me surpreende mais com seu talento e doçura.
Leiam e sintam a grandiosidade da alma dessa poetisa.

"Meu Poeta e eu"

Nem sempre sou o que transbordam
essas rimas de amador.
São coisas de meu poeta
que ora retrata emoções
e ora as inventa dentro de mim.
Pode senti-las noutros corações,
em vidas distantes,
em olhares dispersos.
Mas o que traz consigo
- de vôos pelos sentimentos -
deixo que acomode em meu coração.
Assim serei, por alguns instantes,
o que o poeta deseja transformar em versos.
Não... nem sempre sou o que transbordam
essas rimas de amador.
São coisas de meu poeta,
cuja alma - quando me envolve -
jamais me permite saber quem sou.

Simone Saback

sexta-feira, janeiro 12, 2007

"Flor de Amendoeira"

Tento esquecer os dias vividos
Com seu cheiro do meu lado
Mas, é difícil lembrar de esquecer
O futuro é um instante impreciso
Sei que não tens nada com isso
Por isso, tenho a alma nas mãos
Um sorriso nos olhos
E na ilusão, uma flor de amendoeira
Lugares seguros de guardar
Os tesouros do meu lugar
Guardarei tuas cores até o fim,
Pois ficaram estampadas em mim
Mas, deixa isso pra lá...
Antes que eu me vá,
Conta-me teus segredos
Talvez isso me salvará
Natureza quase morta, ressuscita
Só através do amor o corpo vive.

Lua

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Linhas reescritas...

Esse texto é a bela e delicada linguagem do meu querido amigo Paulo Camelo. Ele consegue traduzir muito bem o cotidiano de íntimos sentimentos, tão íntimos, tão vivos e nossos, que parece até que os sentimos quando lemos.

"Acordou, abriu a janela, respirou e deliciou as cores carinhosas do amanhecer. Queria fazer daquele dia um marco. Que a partir daquela manhã, abriria os braços e agarraria a vida que esquecera na esperança, onde apenas esperava. Titubeou um instante. Medo. Mas dessa vez sentiu que não tinha mais tempo pra ele.. Olhou o quarto, ainda com o cheiro de noite pesada, parou ver contemplar os traços de sua humanidade naqueles enfeites, nas marcas de sua mão na parede, na roupa jogada com pressa no canto. Pensou em quanto tempo da sua vida foi gasta nessas marcas. E de novo sentiu que não tinha mais tempo para isso. Bocejou com preguiça e saiu pela porta. Lutava para não encontrar semelhança do dia anterior. Fez tudo diferente, um café menos amargo, um banho mais demorado. Um atraso calculado e um desejo quase irresistível de pedir demissão. Organizou o que tinha que fazer e fez. Nada de caprichar, nada de querer demonstrar sua falsa idéia de ser a única a ter competência na função. Estava ali pelo salário, nem sabia o que realmente queria estar trabalhando. Ainda novinha entrara na empresa, na época o motivo foi ficar fora do seu quarto, mas depois vieram outros objetivos, e mais outros, até perceber que estava amarrada a uma dívida no cartão... “que dane-se o cartão”, disse baixinho. Quis ligar para ele. Desistiu. Achou que era um momento íntimo demais e se ligasse estragaria tudo. Lembrar dele com carinho foi suficiente e sorriu. Medo. Agora, de perdê-lo. Ah, mas não tinha mesmo tempo para isso! E assim, de medo em medo, foi corajosamente vivendo. "

Paulo Camelo

Eternamente Quintana...

"Amar: Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro."


(Mário Quintana)

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Mais uma belíssima música de Simone Saback...deliciem-se!

Vai
Composição: Simone Saback

Espera aí!
Nem vem com essa estória
Eu nem quero ouvir
Não dá pra te esquecer agora
Como assim?
'Cê disse que me amava tanto ontem
Eu juro que ouvi

Calma aí!
Que diabo você tá dizendo agora?
Que onda é essa de outro lance pra viver?
Você nem pode tá falando sério...
Vivi pra você
Morri pra você

Pois então vai!
A porta esteve aberta o tempo todo
Sai!
Quem tá lhe segurando?
Você sabe voar
Pois então vai!
A porta na verdade nem existe

Sai!
O que está esperando?
Você sabe voar
Então tá bom!
É, senta e conta logo tudo devagar
Não minta, não me faça, suportar
Você caindo nesse abismo enorme
Tão fora de mim

Tá legal!
É, e eu faço o quê com a nossa vida genial?
'Cê vai viver pra outra vida e eu fico aqui
Na vida que ficou em minha vida
Tão perto de mim
Tão longe de mim

(Pois então) vai!
A porta esteve aberta o tempo todo
Sai!
Quem tá lhe segurando?
Você sabe voar
(Pois então) vai!
A porta na verdade nem existe

Sai!
O que está esperando?
Você sabe voar
Uhuu, de volta pra mim
De volta pra mim...

sexta-feira, janeiro 05, 2007

É só fechar os olhos e ver...

Quantas vidas?
É incrível a sensação de plenitude e alegria que os dias nublados me causam.
Não sei explicar, mas eles me encantam.É como se eu conseguisse ao olhar pela janela adentrar o mundo dos céus, passeando entre nuvens e sentindo o carinho de seu toque em meu rosto, da chuva esfriando meu corpo e da cinza cor, acalmando meu espírito, com a paz que ela transmite.
Olho agora, e através do espesso vidro não vejo nada além de gotas dançando em sua superfície, quer dizer, ao longe vejo o contorno dos prédios cobertos pela névoa branca que colore a chuva.
Depois de algum tempo já não vejo mais os prédios, nem as antenas de TV, mas vejo pequenas cidades suspensas, pessoas sorridentes de rostos conhecidos, outros não. Vilarejos com casinhas de alpendres, enfeitados por flores amarelas, com cadeiras de balanço e um céu cor de prata, lugares onde gostaria de poder estar agora.
Ah, às vezes me pergunto porque não podemos voar, também já seria pedir demais a Deus que já nos é tão generoso. Acho que sei bem porque ele não nos concedeu o dom de voar.
Imaginem quantos corações não deixariam o amor à sua espera em troca de uma aventura do outro lado do mar ou até mesmo do outro lado da chuva. Bom, mas também podemos pensar que quantos corações não seriam visitados quando a chuva começasse a cair e batesse aquela saudade louca de estar bem juntinho do seu amor.
Tudo na vida tem seus dois lados. Se não temos asas, temos pernas e imaginação. Podemos sair correndo e gritando alto o quanto somos felizes porque estamos indo ver aquele(a) que nos faz acordar sorrindo ou até mesmo fechar os olhos e transmitir em energia o tamanho do nosso amor e da saudade que agora nos toma. Se fizermos isso com certeza o outro(a) sentirá o mesmo, onde quer que esteja, ele(a) sentirá a força do amor.
Será que um dia comum nublado, chuvoso, nos causa tudo isso?
Me desculpem meus amigos, mas podemos ser tudo, sentir tudo, ir a qualquer lugar é só querer, mas o mais difícil é a gente querer lá do fundo. Se assim o fizermos poderemos nos livrar de nós mesmos, pelo menos por instantes e escolher quantas vidas ter.
A chuva tá passando, mas sua casa continua pintada de cinza, como a minha alma nesse momento está em paz, na paz da sua cor. Acho que ela está partindo em busca de outros corações, outras vidas, outros olhos fixados em janelas, prontos para sonhar com o infinito e voar ao encontro do amor.
O que você consegue ver através do vidro quando está chovendo?
É só uma curiosidade(risos)..., mas quando chover de novo, olhe bem para a janela.
Lua

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Ele pulsa, vezes sim, vezes não...

Coração

Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.
Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.
Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.
Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.
Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.
Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.
Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se p6os. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.
Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.
Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.
Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.
Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.
Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.
Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.
Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome.
Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!
Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também.
Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso. Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração teu.

(Pequenas Epifanias, crônicas)