"Acordou, abriu a janela, respirou e deliciou as cores carinhosas do amanhecer. Queria fazer daquele dia um marco. Que a partir daquela manhã, abriria os braços e agarraria a vida que esquecera na esperança, onde apenas esperava. Titubeou um instante. Medo. Mas dessa vez sentiu que não tinha mais tempo pra ele.. Olhou o quarto, ainda com o cheiro de noite pesada, parou ver contemplar os traços de sua humanidade naqueles enfeites, nas marcas de sua mão na parede, na roupa jogada com pressa no canto. Pensou em quanto tempo da sua vida foi gasta nessas marcas. E de novo sentiu que não tinha mais tempo para isso. Bocejou com preguiça e saiu pela porta. Lutava para não encontrar semelhança do dia anterior. Fez tudo diferente, um café menos amargo, um banho mais demorado. Um atraso calculado e um desejo quase irresistível de pedir demissão. Organizou o que tinha que fazer e fez. Nada de caprichar, nada de querer demonstrar sua falsa idéia de ser a única a ter competência na função. Estava ali pelo salário, nem sabia o que realmente queria estar trabalhando. Ainda novinha entrara na empresa, na época o motivo foi ficar fora do seu quarto, mas depois vieram outros objetivos, e mais outros, até perceber que estava amarrada a uma dívida no cartão... “que dane-se o cartão”, disse baixinho. Quis ligar para ele. Desistiu. Achou que era um momento íntimo demais e se ligasse estragaria tudo. Lembrar dele com carinho foi suficiente e sorriu. Medo. Agora, de perdê-lo. Ah, mas não tinha mesmo tempo para isso! E assim, de medo em medo, foi corajosamente vivendo. "
Paulo Camelo
Um comentário:
obrigado pelo carinho...
bom de lembrar ao reler o texto que o novo assusta, mas é necessário...
grande beijo em você...
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