segunda-feira, julho 20, 2009

Sem correções, sem críticas, sem mais o quê...


A vida como ela é...

Ela entrou pela porta da frente como se anunciasse mais uma despedida. Olhar assustado, mas decidido. O medo dele transpareceu em seu semblante e ela pôde senti-lo em seus olhos. Talvez isso a tenha dado mais coragem para manter-se firme em sua decisão. Como em todos os dias ela tirou as sandálias e as deixou no canto da sala, mas precisamente no lado esquerdo da porta da frente, ligou o som e correu para a cozinha, pois tinha que preparar um café. Ele acompanhou atento, meio bobo, todos os seus mínimos movimentos como se fosse a primeira vez que a visse ou pelo menos, gostaria que assim fosse. Mas, não era, e ele não podia continuar a enganar-se de tal forma. O café já começava a cheirar e ela cantava alto  sua música preferida que chegava quase como um sussurro na sala. Aquela música enchia sua alma de alegria e alto-estima, trazia também boas lembranças de tempos não muito distantes, mas isso agora não importava tanto. Ele resolveu ir a cozinha no intuito de tomar um café e olhar novamente para ela, queria ver se continuava com aquele deslumbre bobo que sentira há poucos minutos ou se a ilusão já havia sumido. Encostou-se à parede ao lado da porta e a olhou. Ela como sempre despercebida, continuava cantando alto e lavando as xícaras, molhando um pouco a camiseta lilás de malha e a calça jeans desbotada, apesar de nova, e batendo o pezinho descalço como se acompanhasse o compasso da música. Naquele momento ele sorriu e a amou, não da mesma forma, mas amou. Era como se aquele sentimento o tomasse com um fulgor indescritível. Quando ele percebeu que ela estava prestes a se virar, desviou estrategicamente o olhar para os pães e biscoitos que estavam na mesa. E mais uma vez, o amor torna-se mero coadjuvante.

Renata Maria

quinta-feira, julho 16, 2009

Para ouvir ao som de " Se ella me faltara alguna vez" Pablo Milanés...

Sim, sins

Quem nunca chorou sozinho lembrando de um amor que se foi querendo ficar.
Quem nunca sentiu uma vontade de voltar no tempo e resgatar um momento.
Quem nunca desejou ter o poder de continuar amando aquele amor quase perfeito.
Quem nunca quis romper com o mundo para alcançar um horizonte inalcansável.
Quem nunca permaneceu horas a fio na escuridão pensando em como seria se tivesse sido.
Quem nunca cantou alto uma canção sentindo todo o corpo arrepiar de saudade.
Quem nunca sentiu uma alegria arrasadora que parecia partir de emoção todas as cordas do coração.

Respondo sim, desejo sins, sempre.

Quem nunca?

Renata Maria

terça-feira, julho 14, 2009

Incondicional

Seus olhos tinham a cor do inevitável.
Um tempo que, talvez, já nem tenha mais cor.
Mas o seu grito de longe se ouvia como o rugir de uma tempestade.
E sua dor era de um vermelho sangue indefinível.

Renata Maria
 

sábado, julho 04, 2009

Fragmentos de dor, pedacinho de Caio...

"Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva."

Caio Fernando Abreu