sábado, julho 08, 2006

Tira-me o que quiseres, mas nunca me tires tua alegria, teu riso doce e febril que assim me faz viver...

O Teu Riso
.

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso..
.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda de prata que em ti nasce.
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A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
.
Meu amor, nos momentos
mais escuros soltao
teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
.
Ri-te da noite,
do dia, da lua, ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
.
Pablo Neruda

Um comentário:

Anônimo disse...

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