sábado, março 24, 2007

"Dia seguinte"

...
Naquela tarde ela sorriu e saiu sem nada dizer.Parecia que eu sentia sua felicidade brotando dos seus pequeninos olhos turvos.Sabia também que logo, logo o sofrimento seria algo inevitável, mas ela teria que ser forte.Ter a certeza de estar ao meu lado era um conforto, como um colo de mãe quando se perde o primeiro amor.Esperei o portão bater e o vento entrar pelas venezianas refrescando meu rosto tranquilo.Fui a cozinha e coloquei a água no fogo, precisava de um café bem forte ou pelo menos sentir o cheiro dele espalhando-se pela sala.Esse cheiro me faz bem, acalma meus sentidos, consigo pensar melhor.Sentei na poltrona da sala e pensei no imenso amor que sinto por ela e o quanto isso me faz bem.Me vi sorrindo sozinha e comecei a sentir o cheiro do café.Sentei na cadeira fria de alumínio da cozinha e tomando o café quis fugir por um instante para encontrá-la.Sabia que ela necessitava do meu cheiro perto de seu rosto como quando a abraço e tudo parece parar.Lá fora o céu está indeciso entre o sol e alguns nuvens chuvosas.Tenho que encontrar aquele CD que tem aquela música que tanto gostamos de ouvir e dizer que é nossa.Hum...aqui está.Como é bom, posso vê-la cantando e olhando fundo nos meus olhos.Acho que ela também pode ouvir e sentir-se melhor, mais protegida.As horas passaram-se lentas e minha vontade de ouvir o bater do portão me fizeram dormir.O portão!Acordei.Já anoiteceu e novamente senti o ventinho vindo das venezianas, dessa vez mais forte e frio.Meu coração estendeu-se num suspiro.Vê-la entrando me aliviou de uma forma impressionante.O CD já chegara ao fim e o café continuava na panela em cima do fogão, frio.Seu sorriso não estava tão largo e aos poucos transformava-se em algo triste e cada vez mais triste, até as lágrimas descerem incontidamente.Eu sabia, esperava por isso.Pude sentir sua decepção, sua frustração com o mundo que lhe criou.Por mais que tudo parecesse desabar, eu estava ali e ela também.O amor nos unia e fortalecia nossas mãos para reconstruir tudo.Abri os braços e chorei com ela dentro deles.Nossos cheiros tão conhecidos estavam molhados e presos em estampas de blusas.Tudo vai passar, eu disse.Ela acreditou e sorriu um sorriso calmo.Levantei e fui buscar uma dose de wisky e alguns pedaços de queijo coalho.Quando me aproximei da rede vi seu sono tranquilo e necessário.Ela amanheceria melhor.Tudo no dia seguinte é mais fácil, torna-se mais comum.Diante daquele ser tão indefeso senti o tamanho do amor que tenho e do quanto o mundo é cruel e traiçoeiro conosco.Ela se mexeu, acomodando-se de maneira mais confortável.Sei que sentiu o meu amor, o meu olhar, a minha proteção.Voltei o CD e coloquei num volume que não atrapalhasse seu sono.Deitei no chão ao lado rede e fiquei observando o céu da janela.O movimento das nuvens e o brilho das estrelas em meio àquela imensidão escura e imcompreensível.Pensei em tanta coisa.Lembranças, saudades, sonhos, pedaços da minha vida passavam como as nuvens diante de meus olhos.Sorri e fechei os olhos.Dormi como se ainda estivesse me vendo aqui, acordada.Naquela noite tive um sonho estranho.Sonhei que ela sorria e saía sem nada dizer.
Lua

Um comentário:

Anônimo disse...

minha linda,
o amor é uma fonte que jorra força e coragem para todos os lados.
e que assim seja!

amo tú, viu?!
não esquece de mim só pq tá namorando não, tá?!

Xêro,
Juli.